Por que temos tanto medo em mostrarmos quem realmente somos?
Por que investir tanto esforço em esconder nossa natureza e admitir nossas
limitações?
A sociedade pede para ser enganada em todas as
circunstancias, desde as que aparentemente dizem ser diferentes até as que
assumem ser comuns e fica por isso mesmo. Em todos os casos temos quem finge
que não se conforma e o que simplesmente se conforma.
Sepulcro caiado. Essa expressão não sai da minha cabeça
quando penso no que nos tornamos como raça humana. Durante toda a historia do
ser humano, independente de sua concepção de verdade, seja pelo criacionismo ou
pelo evolucionismo o fato é que nos tornamos seres piores a cada geração. Desde
as primeiras civilizações o status quo é a ordem de vida.
Nos primórdios usávamos tacapes gigantes, pedras,
estufávamos o peito e usávamos couraças e capacetes para esconder nossa
fragilidade frente a natureza oposta. Com o passar dos anos, a pólvora se
tornou o pó de arroz de uma época onde o medo de ser inferior não poderia de
forma alguma aparecer aos inimigos. Hoje o dinheiro, a estética, as grifes e
posições nos dão um ar de superação desse período, mas o que vejo na verdade
são apenas mudanças de cor no sepulcro.
A expressão citada se dá a referencia de ter uma lapide
linda e adornada que minimize ou esconda o que realmente há por dentro. Sem
querer ser ofensivo, o que existe dentro do tumulo é um ser humano em estado de
decomposição.
Se passearmos por todos os aspectos e circunstancias da
sociedade veremos sempre o esconderijo de sua pequenez, de uma forma ou de
outra. Na politica vemos corruptos se dizerem perplexos frente a tanta
corrupção, nas igrejas vemos a fé se tornado mercado, na família vemos sinais
de egoísmo a todo momento, no serviço, escolas e grupos sociais vemos todos
buscando diferenciais que se faça maior em relação a outrem.
Cada vez enfeitamos mais ou mudamos o nome de nossos
sepulcros para ter a impressão de que a morte não existe, de que não há um
preço a ser pago, de uma vida sem consequências.
Mas sim e daí? Continuamos, mesmo que concordando com isso,
em enganar e sendo enganados. Continuamos vivendo as conveniências sociais,
porque se não, seremos enxotados do convívio comum e seremos expurgados até
mesmo no contexto familiar.
Porque não estamos preparados para conviver com a realidade
do próximo, com suas limitações, defeitos, fragmentos de percepção aprendida e
conceitos unilaterais de experiência. Gostamos de ouvir lindas poesias musicais
ou não, sobre ser empáticos mas se jogarmos luz sobre isso veremos claramente
que na maior parte não passa de tinta cintilante. Digo na maior marte, porque
não posso dizer que todos tem o mesmo comportamento ou intenção, isso não cabe
a mim. Cabe a cada um o olhar para si mesmo e perceber o quanto já se decompôs
por causa do padrão desse mundo, o quanto a forma o deformou e se há ainda
esperança para si mesmo.
Fato é que não podemos, repito, não podemos esperar dos demais
a mesma atitude pois isso é totalmente particular e intransferível. Não quero ser
utópico e dizer que “se fizermos nossa parte...” mas que nós, quando reconhecemos nossa
falibilidade, fica mais fácil de perceber o outro e entender suas ações e mais
que isso, lá dentro, conseguimos, se nos permitirmos, reconhecer as diferenças
e simplesmente estender a mão. E isso é muito difícil. Afinal somos simples
seres humanos.
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